Sessão Solene Comemorativa do Centenário do IST
O Presidente do Instituto Superior Técnico tem o prazer de o convidar a participar na Sessão Solene Comemorativa do centenário da criação da Escola, que terá lugar no próximo dia 23 Maio 2011.
Discurso do Presidente do IST na Sessão Solene do Centenário
Programa
- 15:00 Salão Nobre
Abertura da Sessão Solene
- 15:05 Salão Nobre
Presidente do IST, Prof. António Cruz Serra
- 15:15 Salão Nobre
Comissário das Comemorações do Centenário, Prof. Eduardo Marçal Grilo
- 15:25 Salão Nobre
Reitor da UTL, Prof. Ramôa Ribeiro
- 15:35 Salão Nobre
Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Prof. Mariano Gago
- 15:45 Salão Nobre
Sua Excelência o Presidente da República, Prof. Aníbal Cavaco Silva
- 16:00 Salão Nobre
Encerramento da Sessão Solene
- 16:10 Átrio do Pavilhão Central
Cerimónia do Carimbo do selo dedicado ao Centenário do IST no âmbito da emissão filatélica "100 Anos das Instituições de Ensino"
Porto de Honra
Inauguração da Exposição Duarte Pacheco: Do Técnico ao Terreiro do Paço - 17:15 Salão Nobre
Quinteto de Metais: Portugal Brass Ensemble - De Bach a Bernstein
Programa: De Bach a Berstein - 18:00–22:00
Discurso do Presidente, proferido na cerimónia
- Exmo Senhor Presidente da República
- Exmo Senhor Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior
- Exmo Senhor Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações
- Exmos Senhores chefes das Casas Civil e Militar da Presidência da República
- Exmos Senhores representantes do Ministério da Educação da República Popular da China
- Exmo Senhor Secretário de Estado da Ciência Tecnologia e Ensino Superior
- Exmo Senhor embaixador da Suiça
- Senhor vereador em representação do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
- Senhor Comissário para as Comemorações do Centenário do IST, Prof. Marçal Grilo
- Senhor Bastonário da Ordem dos Engenheiros
- Senhor Reitor da Universidade Técnica de Lisboa,
- Senhores Reitores das
- Universidades Técnicas de Eindhoven,
- E Politécnica da Catalunha
- Senhores Presidentes
- da Universidade Técnica de Darmstad,
- do INP de Grenoble
- e da KTH de Estocolmo.
- Senhores representantes dos Reitores e vice-reitores das universidades portuguesas e
- da Universidade Aalto de Helsínquia
- do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe
- das Universidades Católicas de Lovaina
- da EPFL de Lausanne
- do Trinity College de Dublin
- do Politécnico de Torino
- da Escola Politécnica de Montreal
- e da Universidade Politécnica de Tomsk
- Senhores Reitores, Presidentes e vice-Reitores das Universidades Chinesas de
- Tongji
- Tsinghua
- Tianjin
- Xi’an Jiao Tong
- Pequim Jiatong
- Universidade Técnica de Dalian
- Instituto de Tecnologia de Harbin
- Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul da China
- Universidade de Petróleos da China
- Universidade dos Correios e Telecomunicações de Pequim
- Universidade de Ciência e Tecnologia do Este da China
- Senhores comandantes da Academia Militar, Escola Naval e Academia da Força Aérea
- Senhores antigos Presidentes e Director do Instituto Superior Técnico, caros Professores
- Carlos Matos Ferreira, Diamantino Durão e Fraústo da Silva.
- Senhores Presidentes e Directores dos Institutos e Faculdades da Universidade Técnica de Lisboa, da Universidade de Lisboa e da Universidade Nova de Lisboa.
- Senhor Director da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
- Senhora Presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento
- Senhor Presidente da Câmara Municipal de Loulé
- Senhores vereadores da Câmara Municipal de Lisboa
- Senhores membros do Conselho Geral da UTL
- Caros membros do Conselho de Escola do IST
- Presidentes do Conselho Científico e do Conselho Pedagógico
- Vice-Pesidentes e restantes membros do Conselho de Gestão, do Conselho Científico e do Conselho Pedagógico
- Presidentes de Departamento, das Unidades de Investigação e coordenadores de curso
- Caro Presidente da AEIST e restantes membros da direcção
- Restantes autoridades presentes
- Caros colegas
- Caros alunos
- Minhas senhoras e meus senhores
Há precisamente 100 anos, no dia 23 de Maio de 1911, era publicado pelo Governo da República o Decreto fundador do Instituto Superior Técnico. A fundação do Técnico que hoje celebramos corresponde a um momento singular da história em que política, educação e cultura estiveram associadas de forma notável. Um século depois, é tempo de olhar para o passado e dele tirar ensinamentos para o futuro.
Em Outubro de 1910, a I República foi implantada num Portugal abalado por crises profundas, uma crise social provocada pelo fraco desenvolvimento industrial; uma grave crise económico-financeira associada a uma crescente dívida pública, à falência de bancos e à falta de investimento, interno e externo, e uma crise de confiança nos poderes políticos, despoletada pelos frequentes escândalos de corrupção.
Nos anos que precederam a fundação do IST, falava-se de atraso e civilização, acreditava-se que pela educação se determinaria o futuro da Nação e se arrancaria Portugal de um presente muito sombrio.
O nosso défice científico era apontado desde a reforma pombalina como o culpado pelo atraso de Portugal em relação ao resto da Europa, mas nenhuma medida parecia competente para o debelar. Antero de Quental, comparando-nos com a Europa do progresso afirmava: «a Europa culta engrandeceu-se, notabilizou-se, subiu sobretudo pela ciência: foi sobretudo pela falta de ciência que nós descemos, que nos degradámos, que nos anulámos».
Com a instituição da República em 1910 verificaram-se alterações profundas na política de ensino. Para combater o atraso nacional, tomaram-se medidas para promover a industrialização no país e para formar os quadros indispensáveis que não existiam. Uma das primeiras medidas foi empreendida pelo ministro do Fomento, Brito Camacho, que convidou Alfredo Bensaúde a reestruturar e organizar o antigo Instituto Industrial e Comercial de Lisboa. A necessidade da reforma do ensino industrial e comercial em Portugal foi explicitada no relatório que acompanhou o Decreto de 23 de Maio de 1911 que desdobrou o Instituto Industrial e Comercial de Lisboa em duas novas escolas, o Instituto Superior Técnico e o Instituto Superior do Comércio, actual ISEG, que saúdo na pessoa do seu Presidente o meu caro amigo Prof. João Duque, aqui presente. Escrevia Brito Camacho no referido relatório: “o nosso atraso provém, apenas, de insuficiência do nosso ensino técnico, insuficiência que ontem era um mal e hoje é um perigo dada a luta de competência que é preciso suportar na concorrência aos mercados de todo o mundo”.
Bensaúde foi director do IST desde a sua fundação até 1922. Sob a sua direcção, nas instalações do Técnico velho, foram formadas as primeiras gerações de engenheiros que ajudaram a transformar o país. Em 1922 publicou as Notas histórico-pedagógicas sobre o Instituto Superior Técnico, que ainda hoje em dia constituem um trabalho de referência do ponto de vista pedagógico, mas também de doutrina para a Escola no que concerne à nossa aspiração de sempre de autonomia e de combate à burocracia. Bensaúde revela-nos nesse livro o momento histórico inédito que presidiu a criação do IST. Inédito pelas bases de total autonomia científico-pedagógica com que o Instituto foi criado e que permitiram a criação de uma escola com elevados padrões de excelência e exigência, desenvolvendo uma cultura muito própria, o “espírito de escola” que nos distingue e permanece.
Mas esse momento histórico seria apenas isso: um momento que se esfumou rapidamente. E essa autonomia começou quase imediatamente a ser atacada. Quatro anos depois, em 1915, Bensaúde já escrevia ao Parlamento, pedindo a revogação de uma lei que comprometia a continuidade dos cursos superiores de engenharia.
Em 1919, sem esperanças de conseguir financiamento para a ambicionada construção de um edifício condigno para o ensino da engenharia e cansado dos ataques legislativos à autonomia da nova instituição, Bensaúde pediu a demissão do cargo de director do Técnico.
Foi preciso esperar por 1925 e pela entrada de Duarte Pacheco no corpo docente do IST para a situação se alterar.
No primeiro Conselho Escolar do IST em que participou, Duarte Pacheco propôs-se resolver, no espaço de um ano, o problema das instalações degradadas. Um homem de acção que se movimentava com muito à vontade nos meios políticos, Duarte Pacheco conseguiu o que tantos tinham infrutiferamente tentado nos 15 anos anteriores de existência do Técnico: os fundos e as condições necessárias ao arranque das obras de construção de um Técnico novo. Essas condições passavam por uma autonomia financeira tão inédita quanto o fora a autonomia científico-pedagógica conseguida por Alfredo Bensaúde. Com essa autonomia e com uma gestão rigorosa dos dinheiros públicos, Duarte Pacheco conseguiu construir o primeiro campus universitário pensado e criado de raiz, concretizando nos edifícios da Alameda os ideais pedagógicos do fundador do IST. A exposição alusiva a Duarte Pacheco que hoje inauguramos ilustra adequadamente o seu espírito tenaz, rebelde e empreendedor.
Quero pois homenagear através das insignes figuras de Alfredo Bensaúde e de Duarte Pacheco, os primeiros directores do Técnico Velho e do Técnico Novo, todos os que fizeram o Técnico de hoje: uma Escola de referência a nível nacional e internacional. Ambos extraordinários, estes dois homens conjugam o que deve ser um engenheiro do Técnico, alguém que sabe … e que sabe fazer.
Senhor Presidente, celebramos hoje o centenário da fundação do Técnico. E não existe melhor forma de o fazer senão através de um balanço da nossa actividade. É tempo de prestar contas ao país. De mostrar o que fizemos e naquilo em que nos transformámos com os recursos avultados que Portugal aqui investiu no último século.
É com muito prazer que mostrarei alguns diapositivos que resumem o nosso sucesso. O Técnico é hoje a maior Escola de todas as Universidades portuguesas, sob todos os pontos de vista: pelo número de alunos de licenciatura e mestrado, pelo número de alunos de doutoramento, pela produção científica produzida, pelo número de patentes registadas, pela quantidade de projectos de investigação em curso, pelo volume das receitas próprias geradas e pelo número de doutorados que aqui trabalham. Dito isto, tenho que acrescentar que mais importante do que ser maior é ser melhor e o melhor que temos são os nossos alunos!
O primeiro diapositivo resume muito bem o resultado da nossa actividade. Nestes cem anos passaram pelo IST mais de 70.000 alunos, tendo concluído formações iguais ou superiores a 5 anos cerca de 40.000 alunos. Estou certo que o valor para Portugal destes 40.000 engenheiros e doutores do IST supera em muito os recursos aqui investidos.
Realço o aumento do número de alunos nos últimos anos, consequência do aumento do número de alunos de doutoramento (mais 90% hoje do que há quatro anos atrás). Temos actualmente mais de 1.100 alunos de doutoramento.
Todos os dias trabalham e estudam 11.500 pessoas no campus da Alameda e 1.500 no do Taguspark, sendo em média ministradas mais de 800 horas de aulas diárias.
Temos hoje mais de mil professores e investigadores doutorados.
Todos os anos colocamos no mercado mais de 1.000 novos engenheiros, arquitectos e doutores. Todos com excelente empregabilidade na profissão que aqui aprenderam. Nos dados do último inquérito disponível mais de metade dos nossos mestres já tinham contrato de trabalho assinado antes de terminarem o curso. O salário médio no momento do 1º emprego ronda os 3 salários mínimos.
A nossa contribuição para a produção científica nacional representa na última década cerca de 20% da produção científica nacional em todas as áreas científicas.
É com muito gosto que afirmo aqui que a nossa contribuição percentual tem vindo a descer consistentemente ao longo dos anos. E como podem ver não é porque não estejamos a aumentar muito em valores absolutos, mas por uma excelente razão, porque todo o sistema científico nacional tem tido um desempenho excepcional. A nossa taxa de convergência com a produção científica europeia, ou de qualquer país desenvolvido, era impensável há meia dúzia de anos atrás. Estamos todos de parabéns.
Estão permanentemente em execução no IST cerca de 1.000 projectos de investigação.
Temos uma receita média anual em projectos de Investigação e Desenvolvimento por doutorado de 60.000 euros.
Registámos na última década cerca de 45% de todas as patentes registadas pelas universidades portuguesas e 12% do total de patentes nacionais.
A nossa comunidade de spin-offs cresce todos os anos e finalmente teremos ainda este ano condições de incubação excepcionais proporcionadas pela Taguspark SA. Falta ainda que os nossos mais recentes alunos, professores, ou investigadores criem a nossa Google, ou a nossa Nokia, como no passado criaram as grandes empresas nacionais, da energia às telecomunicações, do petróleo à construção civil, da indústria química aos transportes. Com ou sem crise, com ou sem apoio do Estado. Devemos isso a Portugal.
Senhor Presidente, somos uma Escola internacionalizada como demonstra toda a nossa actividade, as nossas parcerias e a nossa participação nos maiores projectos internacionais em curso, desde o programa internacional da Fusão Nuclear, onde a Europa investirá 7 mil milhões de euros até 2020, e que é dirigida por um professor do IST, à nossa importante participação no trabalho do CERN, à colaboração com a Agência Espacial Europeia, ou ao trabalho no âmbito do 7º programa quadro da UE.
Devo destacar as nossas bem sucedidas parcerias com as Universidades americanas, a começar pelo programa MIT/Portugal.
Reveste-se de especial importância para o IST, a sua integração ao nível do Cluster, uma rede europeia de Universidades de elite nas áreas da Ciência e da Engenharia, com as quais trabalhamos de forma muito estreita, com as quais cooperamos todos os dias, mas com as quais competimos também todos os dias na captação de projectos, alunos e recursos. Esta rede única é também um fórum de partilha de experiências de gestão, de criação de sinergias para vencer os desafios do nosso tempo e naturalmente um importante lóbi a nível europeu. Para estes nossos parceiros permita-me pois Senhor Presidente que enderece uma especial palavra de agradecimento pela sua presença:
- Dear Rector of the Eindhoven University of Technology.
- Dear President of KTH Stockholm.
- Dear President of the Technical University of Darmstadt.
- Chère President de l’Institut National Polytechnique de Grenoble.
- Estimado Retor de la Universitat Politècnica de Catalunya.
- Dear vice-Rectors and representatives of
- Aalto University Helsinki
- Karlsruhe Institute Technology
- Catholic University of Leuven
- Université Catholique de Louvain
- École Polytechnique Fédérale de Lausanne
- Politecnico di Torino.
- Trinity College Dublin
It is a great pleasure to have you all here in this special occasion for IST. It is also an honor to be the President of Cluster during this mandate.
But my special thanks are due for your friendship and support, for being here with your invaluable solidarity with our fight in favor of the development of the top European higher education and of research in science and technology.
We all know that the only way to achieve these goals is strengthening the university autonomy.
In the last years we learned a lot with you on innovative organizational models, that some of you already reached. These allow European public universities to remain major players at international level.
History tells us how engineers could not accept nature as it was and had to produce new materials, new systems, new devices that completely changed life on Earth. Universities have always been the seeds of change and disruption and, I would risk saying, the ultimate contributors to a better society.
CLUSTER links Thinking and Acting this a distinctive asset of this network, the road ahead is full of opportunities but it is also full of hardship and hard work.
Para além da cooperação com os nossos tradicionais parceiros Americanos e Europeus, a nossa colaboração estende-se para as áreas geográficas onde actualmente se dá o maior crescimento económico, científico e tecnológico. Permitam-me uma especial saudação para os nossos parceiros reitores, presidentes e vice-reitores das melhores universidades chinesas de ciência e tecnologia que se juntam às comemorações do centenário do Técnico.
A special word is due to our Chinese guests from 12 of the best Chinese Universities of Science and Technology and to the representatives of the Ministry of Education of the Chinese Government. It is a pleasure to have you here. China and Europe, expect very much of our join work. I am sure that our common goals for education, research and development will be achieved.
Thank you for being with IST today.
Senhor Presidente, o Técnico de hoje, há muito que deixou de caber nos muros do Técnico Novo de Duarte Pacheco no centro de Lisboa. O Técnico de hoje estendeu-se há mais de uma década para o seu campus do Taguspark, onde finalmente o seu principal edifício se encontra concluído. Um edifício que é do melhor que há no ensino superior português, que nos orgulha, onde 2/3 dos custos de construção e equipamento foram suportados pelas nossas receitas próprias. Durante este ano do centenário, será construída a residência de estudantes do Taguspark, com cerca de 90 camas, integralmente financiada pela Taguspark SA, e pela qual aguardamos desde a constituição do parque de ciência e tecnologia em 1992.
Mas o Técnico de hoje não está fechado nos muros do Técnico Novo de Duarte Pacheco. O Técnico de hoje abre-se à cidade de Lisboa e atrai anualmente um cada vez maior número de estudantes internacionais que querem conhecer a nossa tecnologia, a nossa ciência mas também o nosso país e a nossa cultura. Mas tudo isto não cabe no Técnico Novo de Duarte Pacheco planeado para um tempo em que tínhamos 25 vezes menos alunos que hoje. Assim, o Técnico de hoje desce da colina, salta os muros e mistura-se na cidade. É com muito gosto que anuncio publicamente que na próxima sexta-feira assinaremos neste mesmo local um protocolo com o senhor Presidente da CML para a cedência do antigo edifício da Carris no jardim do Arco do Cego. É uma excelente notícia para o IST e para a cidade.
O IST é seguramente uma das mais bem sucedidas criações da República, temos uma história de que nos orgulhamos e a Escola nunca esteve tão pujante. Quero prestar homenagem a todos os que aqui estudaram, ensinaram, investigaram e trabalharam. O sucesso do IST é resultado do sucesso de todos eles e o resultado do seu trabalho e estudo.
Permitam-me uma homenagem especial a um conjunto de membros da nossa comunidade que geralmente é esquecida nestes momentos: os nossos professores e alunos que pela sua luta contra a ditadura foram expulsos do Técnico. A contribuição de todos os que no Técnico (e em especial na sua Associação dos Estudantes) participaram na luta pela democracia merece a nossa mais reconhecida homenagem. Ainda está por fazer a história da influência da sua luta na formação de uma geração de oficiais da Academia Militar que passaram pelo IST na década de 60 e que teve certamente uma importância injustamente esquecida na formação da consciência democrática dos futuros capitães de Abril.
Senhor Presidente, hoje é dia de festa. Devemos comemorar o que somos e o que fizemos. No entanto, façamos uma passagem muito rápida, mas obrigatória nos tempos que correm, pelos fantasmas que podem comprometer este esforço do IST pelo desenvolvimento científico e tecnológico do país.
Aqui têm a evolução da dotação do orçamento de estado ao longo dos últimos 15 anos.
Nesse mesmo período o valor das nossas receitas próprias é o que podem ver. Como facilmente se observa temos tido um permanente incremento do nosso orçamento competitivo, que é constituído por 4 parcelas fundamentais: a dos projectos contratados directamente pelas empresas nacionais e internacionais, a dos projectos financiados pela Comissão Europeia, a dos projectos financiados pelas agências nacionais de investigação e desenvolvimento e a das propinas dos nossos alunos.
Comparemos a dotação do OE com a evolução da massa salarial neste período. O crescimento dos últimos anos nada tem que ver com aumento de salários, ou de pessoal, mas sim com o aumento das contribuições obrigatórias para a CGA, Segurança Social e ADSE como se pode ver.
De facto as transferências líquidas do OE foram as seguintes. Estamos muito longe do financiamento mais alto de sempre que ocorreu em 2000 e 25% abaixo do patamar do início da década passada. Para sermos totalmente justos para com os sucessivos governos, devemos também somar o financiamento dos projectos de investigação promovidos pelas agências públicas nacionais. Como podem ver o máximo do financiamento ocorreu em 2008, e como é óbvio o sucesso do Sistema Científico Nacional resulta também destes números. Mas, considerando que as cativações este ano não ultrapassarão as já conhecidas, estamos 20% abaixo dos valores de 2008.
Se toda a administração pública tivesse tido uma descida na dotação do OE da dimensão da que aconteceu na Universidade, o país estaria com superavit e não com o défice excessivo.
Senhor Presidente, a universidade portuguesa está perante uma situação de grande risco. E não falo da diminuição da dotação do OE. Não. Muito pior que isso são os sucessivos ataques à nossa autonomia.
De cada vez que um Ministro das Finanças decide tomar medidas restritivas transversais a toda a administração pública, bloqueia a nossa capacidade de trabalho e coloca em risco a nossa capacidade de arrecadar receitas próprias.
De cada vez que um governo decide bloquear as contratações na administração pública, impede também as contratações de investigadores que asseguram a execução de projectos que trazem receita associada, mas que se perde se não formos capazes de os executar. Também não podemos viver, se todas as aquisições de bens e serviços acima de 5k€ tiverem que ir a autorização dos serviços centrais do MFAP, ou se não pudermos realizar com agilidade as alterações orçamentais exigidas pela complexa estrutura de gestão de 1000 projectos, que vão sendo ganhos ao longo do ano e que trazem receita, mas também obrigações.
E não estou a conjecturar sobre situações hipotéticas, não, tudo isto aconteceu nos últimos 12 meses. E o que se tem conseguido para evitar a paralisia das nossas instituições de ensino superior, muito se deve ao empenhamento que o ministro da ciência, tecnologia e ensino superior tem demonstrado. Bem-haja senhor ministro.
O Técnico precisa que o poder político decida qual o financiamento público com que teremos de viver. Pode ser maior ou menor, mas tem que ser claro e de preferência definido numa base plurianual.
E em seguida senhor Presidente precisamos … que nos deixem trabalhar.
As melhores universidades do mundo são as que têm maior autonomia.
A agilidade na execução da despesa dos projectos de investigação é condição essencial para estimular os professores a irem à procura da receita. Nem toda a despesa é deficit, a despesa reprodutiva é crescimento, nas universidades existe muita despesa reprodutiva e ainda por cima realizada através da captação de receita fora da dotação do OE, travá-la isso sim será aumentar o deficit e o desemprego.
Senhor Presidente, permita-me que dê um exemplo mediático que possa estimular a comunicação social. Temos um contrato de um milhão de euros com a Agência Espacial Europeia (ESA) para realizar o ensaio da reentrada de veículos na atmosfera. Esse contrato obriga à construção dum pequeno edifício para simular o choque a que os veículos espaciais estão sujeitos quando reentram na atmosfera. O edifício custa menos de 200k€. Não podemos deixar de realizar a obra, mesmo que o nosso orçamento elaborado em Agosto de 2010 o não preveja. Também precisamos de contratar jovens investigadores doutorados para trabalhar no projecto, mesmo que alguém decida bloquear as admissões na administração pública. E o projecto não esperará por nós, nem pelas autorizações do Ministério das Finanças e da Administração Pública. Os resultados têm que estar prontos antes da missão a Marte de 2012 e a ESA paga toda a despesa incluindo o trabalho que será realizado pelos nossos investigadores, que não constitui uma despesa extra! Pelo contrário, o IST arrecada 250k€ de overheads com este projecto, que ajudam a suportar as despesas de funcionamento e os salários que o Orçamento de Estado não assegura.
Não podemos continuar a viver num enquadramento jurídico em que nunca temos a certeza da fronteira entre o que podemos, ou não podemos fazer. Temos de nos libertar da esquizofrenia burocrática em que vivemos e onde dissipamos a nossa energia.
O Técnico de hoje precisa dum novo estatuto jurídico que nos deixe trabalhar como qualquer universidade de topo na Europa.
E precisa depressa.
Como Alfredo Bensaúde e os seus colegas do Instituto Industrial e Comercial no início do século XX, vivemos um período difícil da nossa história colectiva, de incerteza sobre o nosso futuro, sobre a sustentabilidade de modelos de organização social e económica e da organização do Estado que marcam o nosso Passado recente e o Presente.
Mas hoje, que celebramos o centenário do Técnico, não esquecemos o nosso enquadramento dentro da Universidade Portuguesa e das mudanças que são necessárias fazer no seu modelo de organização. O memorando de entendimento, recentemente acordado pelo estado português, obriga à redução de institutos públicos, empresas públicas e fundações.
Os reitores da Universidade Técnica, Prof. Ramôa Ribeiro, e da Universidade de Lisboa, Prof. Sampaio da Nóvoa, já manifestaram abertura para pensarem na fusão das suas Universidades. Os meus queridos amigos aqui presentes Pinto Paixão e José Morais, Directores da Faculdade de Ciências e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa autorizaram-me a divulgar o seu apoio à ideia, o meu querido amigo, Fernandes e Fernandes, Director da Faculdade de Medicina da UL, também presente, e na pessoa de quem celebro a muito bem sucedida parceria, entre o IST e a FMUL, na formação em Engenharia Biomédica, permitir-me-á citá-lo no seu discurso do centenário da FMUL. Dizia ele:
“Precisamos, de menos e melhores Universidades.
A prossecução desse objectivo exige, uma reorganização corajosa do tecido universitário português e em especial na cidade de Lisboa, a adopção de modelos de acção inovadora, exequível e com perspectivas de sucesso.”
O Presidente do IST não hesita, tal como o Director da Faculdade de Medicina, no apoio a essa Política.
O Estado pode contar da parte do IST e das Universidades de Lisboa, com um comportamento generoso em relação a este assunto, que será também uma oportunidade impar de reorganizar todo o ensino superior português. E que poderá servir de exemplo às corporações … e caciques que cronicamente resistem às imprescindíveis medidas de estabilidade que passam pela reorganização de todo o aparelho administrativo.
O Instituto Superior Técnico é hoje uma Escola de Engenharia, Ciência, Tecnologia e Arquitectura, a nossa Missão é criar e disseminar conhecimento e dotar os nossos estudantes de uma sólida formação de base e de competências para melhorarem, mudarem e darem forma à Sociedade através da ciência, da tecnologia e do empreendedorismo.
Combinamos Ensino e actividades de Investigação, Desenvolvimento e Inovação de acordo com os mais elevados padrões internacionais, envolvendo toda a nossa comunidade num ambiente estimulante e global, orientado para a resolução dos grandes desafios do Século XXI.
Eis o Técnico de hoje. Portugal pode continuar a contar com a nossa maior riqueza, os nossos estudantes, como motores de inovação, desenvolvimento e crescimento do país.
Senhor Presidente, o IST agradece reconhecido a sua presença nesta cerimónia que muito nos honra e a sua pronta aceitação da presidência da comissão de honra das comemorações do centenário. Permita-me oferecer-lhe o primeiro exemplar da medalha do centenário, assim como ao senhor ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior, ao senhor Reitor da UTL e ao Prof. Marçal Grilo a quem agradeço mais uma vez ter aceite ser o Comissário das Comemorações do Centenário.
Tenho dito.
IST, 23 de Maio de 2011