1911 — A fundação do IST
A 23 de Novembro de 1910 Brito Camacho foi nomeado Ministro do Fomento do Governo Provisório da recém-criada República Portuguesa. Uma das suas primeiras prioridades, como escreveu uns anos depois no periódico A Lucta, foi a reforma do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa (IICL), para tal convidou Alfredo Bensaude, para primeiro director do Técnico.
A necessidade da reforma do ensino industrial e comercial em Portugal foi explicitada no relatório que acompanhou o Decreto de 23 de Maio de 1911 que desdobrou o IICL em duas novas escolas, o Instituto Superior Técnico e o Instituto Superior do Comércio, actual ISEG. Para Brito Camacho “o nosso atraso provém, apenas, de insuficiência do nosso ensino técnico, insuficiência que ontem era um mal e hoje e um perigo dada a luta de competência que e preciso suportar na concorrência aos mercados de todo o mundo”.
A criação do Técnico correspondeu assim a um desejo de mudança visível no estatuto inédito de autonomia que lhe foi concedido. Por parte de Alfredo Bensaude houve uma preocupação clara de inovar, de criar desde logo uma escola com elevados padrões de excelência e exigência, desenvolvendo uma cultura muito própria, o “espírito de escola” que figura abundantemente nos primeiros números da revista Técnica e que perdura até hoje. Os princípios fundadores do IST configuram, assim, algo não muito habitual na nossa História e uma presciência pouco comum nos nossos governantes: procurou-se induzir a partir de instituições de ensino uma mudança radical na economia e na própria sociedade nacional.
O arrojo desta política visionária de formação foi imediatamente sentido na economia portuguesa e tem-se repercutido ao longo deste século de existência. À data da nomeação de Brito Camacho, Portugal tinha um atraso abissal em relação ao resto da Europa, fruto do lugar muito secundário que a industrialização protagonizava nas preocupações da elite política e económica da monarquia. Portugal era um país em que, segundo os censos de 1 de Dezembro de 1900, havia uma percentagem de 79% de analfabetos e apenas cerca de 1% da população activa trabalhava na indústria.
As primeiras gerações de alunos formados pelo Instituto Superior Técnico foram fundamentais na alteração deste quadro e marcaram a diferença nas indústrias que os acolheram, uma nova geração de empresas empenhadas na inovação de produtos, equipamentos e processos ou empresas reputadas nos seus sectores como a CUF, fundada por Alfredo da Silva, um antigo aluno do IICL, a Companhia União Metalúrgica ou a fábrica de Cimentos da Rasca que daria origem, décadas mais tarde, à SECIL. Mas o empreendedorismo que hoje encorajamos nos nossos alunos está presente desde a nossa criação: dos primeiros 80 engenheiros formados, 12 formaram as suas próprias empresas e 3 assumiram imediatamente a direcção de fábricas.
O papel proeminente dos nossos alunos e docentes na construção de um Portugal mais moderno tem sido uma constante destes primeiros 100 anos de existência. Na celebração do centenário da nossa Escola queremos relembrar o passado e continuar no futuro o que tem sido a nossa História: uma peça fundamental no desenvolvimento económico, científico, tecnológico e social de Portugal. É para esta celebração do futuro na continuidade do passado que vos convidamos.