Duarte Pacheco: A Vida e a Obra
Duarte Pacheco, considerado um dos políticos mais marcantes do século XX, operou uma transformação profunda do País. Duarte Pacheco, nascido em Loulé no virar do século, veio para Lisboa aos dezassete anos atraído pela fama do ensino da Matemática de uma jovem Escola. Formado pelo IST em 1923, quatro anos depois, em 1927, o Conselho Escolar determinava por unanimidade a sua nomeação como Director do Instituto Superior Técnico.
Duarte Pacheco operou uma transformação profunda do País. Durante os anos que presidiu ao Ministério das Obras Públicas e Comunicações e à Câmara Municipal de Lisboa, planificou e executou as obras que trouxeram Lisboa e Portugal para o século XX. Ao seu nome ficaram ligadas, entre muitas outras, em todo o país, obras emblemáticas como os bairros sociais de Alvalade, Encarnação, Madredeus e Ajuda, em Lisboa, as auto-estradas Lisboa-Vila Franca de Xira e Lisboa-Estádio Nacional, a marginal Lisboa-Cascais, a Estação Marítima de Alcântara, o aeroporto de Lisboa, o Estádio Nacional, a Fonte Monumental da Alameda, o Instituto Nacional de Estatística, a Casa da Moeda e a organização da Exposição do Mundo Português.
A acção de Duarte Pacheco estendeu-se a praticamente todos os aspectos do quotidiano e foi fundamental no desenvolvimento do país atrasado que encontrou quando assumiu a pasta em 1932. Obras estruturais, menos imponentes e memoráveis mas mais estratégicas, como as obras nos portos de Lisboa e Leixões, mas também Viana do Castelo, Póvoa de Varzim, Aveiro, Figueira da Foz, Peniche, Setúbal, Vila Real de Santo António, Funchal e Ponta Delgada, para além do seu impacto no comércio e nas actividades piscatórias, foram cruciais para a indústria, inclusive a indústria cimenteira necessária às grandes obras que o ministro visionava. Também a expansão e conservação da rede rodoviária nacional que empreendeu, construindo ou reparando as estradas necessários ao tráfego de passageiros e mercadorias, foi importante no desenvolvimento regional ao permitir o escoamento dos produtos agrícolas e industriais de regiões antes isoladas.
Estas obras, a resolução do (mau) «estado sanitário do País», o fomento das infraestruturas hidro-agrícolas e a construção de centrais hidroeléctricas, bem como o extenso programa de florestação, de que a criação do Parque de Monsanto é apenas simbólica, mudaram muito mais do que a paisagem nacional, mudaram o tecido económico e social do País.
A criação do Fundo de Desemprego, para que contribuíam empregados e empregadores, permitiu os fundos para o Comissariado do Desemprego recrutar a mão-de-obra necessária às obras. Simultaneamente, permitiu ao ministro cumprir o objectivo de justiça social que o lema do comissariado ilustra: «Não se dão esmolas, procura dar-se trabalho».
A obra de Duarte Pacheco foi possível num espaço tão curto de tempo devido à sua capacidade de trabalho, ao rigor e ao método que imprimiu ao seu trabalho e ao funcionamento do Ministério e dos organismos que criou e controlou. Dotado de um carácter inabalável, imbuído da ética republicana que regeu toda a sua carreira política, com uma vontade forte e uma ousadia visionária, Duarte Pacheco revolucionou Portugal nas mais diversas vertentes, obras públicas, transportes, comunicações, solidariedade social, ensino e cultura. Se a contemporização do ministro com o regime é polémica, a sua capacidade de fazer e fazer bem nunca estiveram em dúvida.
É esta grande figura que pretendemos homenagear no dia 23 de Maio através da realização da exposição «Duarte Pacheco - do Técnico ao Terreiro do Paço», integrada no programa das Comemorações do Centenário do Instituto Superior Técnico, que ilustra o engenho e obra de um dos políticos que mais marcou o país no século XX.